O tédio da vida cotidiana, a inadequação ao mundo ao redor e a íntima desconexão com as pessoas mais próximas. Tudo isso em um território marcado pelo militarismo, pelo conflito armado e pelo imperialismo estadunidense. É sobre esse microcosmo que fala o filme Questões Pessoais (“Personal Affairs” ou “Omor Shakhsiya”), dirigido pela palestina Maha Haj.
Em Nazaré (Israel), o casal de idosos Nabeela e Saleh vivem a monotonia diária de um casamento de longa data e a incapacidade de se comunicarem um com o outro. Essa rotina só é alterada quando recebem um convite do filho mais velho Hisham para visitá-lo na Suécia. Do outro lado da fronteira, em Ramallah (Palestina), seu filho mais novo, o diretor de teatro iniciante Tarek, tenta se desvencilhar de um compromisso mais forte com a namorada perfeita, Maysa, até que o xeque-mate acontece quando os dois vão parar inesperadamente em um posto de controle israelense. Única filha mulher de Nabeela e Saleh, a jovem Samar se prepara para dar à luz ao primeiro neto do casal, enquanto seu marido George recebe uma oportunidade de ver o mar Mediterrâneo pela primeira vez.
Diretora do curta Oranges (2009) e do documentário Within These Walls (2010), Maha Haj estreia brilhantemente na direção de um longa-metragem com Questões Pessoais. Maha também atuou como roteirista e diretora de arte. Daí talvez o cuidado estético com o filme: quase totalmente composto por cenas internas, cada cômodo é carregado de personalidade, sem com isso perder o tom de “vida real”.
Solidão. Monotonia. Vidas vazias. Questões Pessoais aborda de forma intensa e despretensiosa temas universais, mirando na aparente superficialidade da vida cotidiana para acertar em cheio nos pensamentos mais íntimos de seus espectadores, sejam eles palestinos, israelenses ou brasileiros.