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O tédio da vida cotidiana, a inadequação ao mundo ao redor e a íntima desconexão com as pessoas mais próximas. Tudo isso em um território marcado pelo militarismo, pelo conflito armado e pelo imperialismo estadunidense. É sobre esse microcosmo que fala o filme Questões Pessoais (“Personal Affairs” ou “Omor Shakhsiya”), dirigido pela palestina Maha Haj.

Em Nazaré (Israel), o casal de idosos Nabeela e Saleh vivem a monotonia diária de um casamento de longa data e a incapacidade de se comunicarem um com o outro. Essa rotina só é alterada quando recebem um convite do filho mais velho Hisham para visitá-lo na Suécia. Do outro lado da fronteira, em Ramallah (Palestina), seu filho mais novo, o diretor de teatro iniciante Tarek, tenta se desvencilhar de um compromisso mais forte com a namorada perfeita, Maysa, até que o xeque-mate acontece quando os dois vão parar inesperadamente em um posto de controle israelense. Única filha mulher de Nabeela e Saleh, a jovem Samar se prepara para dar à luz ao primeiro neto do casal, enquanto seu marido George recebe uma oportunidade de ver o mar Mediterrâneo pela primeira vez.

Diretora do curta Oranges (2009) e do documentário Within These Walls (2010), Maha Haj estreia brilhantemente na direção de um longa-metragem com Questões Pessoais. Maha também atuou como roteirista e diretora de arte. Daí talvez o cuidado estético com o filme: quase totalmente composto por cenas internas, cada cômodo é carregado de personalidade, sem com isso perder o tom de “vida real”.

Solidão. Monotonia. Vidas vazias. Questões Pessoais aborda de forma intensa e despretensiosa temas universais, mirando na aparente superficialidade da vida cotidiana para acertar em cheio nos pensamentos mais íntimos de seus espectadores, sejam eles palestinos, israelenses ou brasileiros.

[Texto escrito a convite da WIFT (Women In Film & Television) Brasil, em ocasião da mostra “Silêncios Históricos e Culturais”*, que marcou os 50 anos do golpe militar no Brasil.]

Cena do documentário “O Eco das Canções”, de Antonia Rossi.

Cena do filme “O Eco das Canções”, de Antonia Rossi.

Quanto de nós é resultado das paisagens que vimos, das músicas que ouvimos, dos comerciais que passavam na tevê enquanto crescíamos? Em que parte os rumos que nossa vida tomou foram influenciados pelo contexto histórico que vivemos? Em “El Eco de Las Canciones” (2010), Antonia Rossi abre seu álbum de família tentando encontrar sua identidade no turbilhão de imagens, sons e sentimentos que vão surgindo em seus sonhos e em sua memória. (mais…)