Na manhã dessa ensolarada sexta-feira, duas garotas cruzaram a cidade de São Paulo rumo ao Howard Johnson Faria Lima. Na área externa do Hotel, duas mulheres, uma de cabelos molhados, a outra de óculos-escuros, ambas de roupas despojadas, conversavam, tranquilamente sentadas à mesa de madeira. Entre uma frase e outra da primeira, a segunda passava os olhos pela tela de um laptop. Como está a situação da mulher, hoje, no Brasil?
Assim começou o encontro entre a Fuzarca Feminista, representada pela Clarisse Aló e por mim, e as Guerrilla Girls. Logo que nos apresentamos, Kathe e Frida, como gostam de ser chamadas duas das artistas fundadoras e mais atuantes do coletivo, “abriram para as perguntas”. Estavam interessadas em saber mais sobre Dilma Rousseff (Ela é feminista? Como ganhou a eleição?), sobre a quantidade de mães solteiras, sobre os índices de violência e sobre a questão do aborto no país. O aborto é permitido no Brasil? Mas as mulheres fazem? Ah, então quem são presas são as pobres, right? BINGO! Kathe e Frida, através de uma lógica simples e sem maiores esforços, rapidamente diagnosticaram o que parece tão difícil de ser compreendido por aqui…
The Birth of Feminism - Guerrilla Girls no SESC
Em seguida, passamos para uma prova oral sobre a Marcha Mundial das Mulheres. Interessadas em conhecer nossa atuação, queriam saber como se faz para entrar no movimento, quais são nossas pautas e, principalmente, como conseguimos articular a organização internacionalmente.
Por mais de trinta minutos, fomos entrevistadas pelas Guerrilla Girls. Fomos lá para entrevistá-las e acabamos entrevistadas por elas(!). Ainda um pouco desnorteadas, passamos então para as nossas próprias perguntas. Finalmente, pudemos ligar o gravador (de áudio). Elas não haviam nos permitido filmar; estavam sem máscaras, o que tornou aquele momento ainda mais especial – nós sabíamos a identidade secreta de nossas semi-heroínas!
Guerrilla em protesto inusitado
As gorilas nos contaram um pouco sobre a origem do grupo e nos deram ideias de ativismos. Mostraram-nos um pôster sobre o aborto, no qual, em meio a uma manifestação, elas aparecem segurando cartazes reivindicando a volta dos valores tradicionais. Em seguida, a explicação: conforme haviam descoberto, o aborto era uma prática recorrente e legal nos EUA dos séculos anteriores. Quando questionadas a respeito de uma possível apropriação de sua arte, hoje, pelos meios massivos e pelos grandes museus que sempre criticaram, foram enfáticas: Queremos inspirar outras pessoas, e quanto mais pessoas pudermos atingir com a nossa mensagem, melhor.
Com certeza, eu, a Clarisse e todo mundo que foi até o SESC Pinheiros, à noite, saímos bastante inspiradas.
Guerrilla Girls e Fuzarca Feminista